Segundo o SNIS, 91% dos municípios brasileiros enviaram ao órgão os dados sobre desperdício. Para especialistas que acompanham o setor, no entanto, os valores declarados são, muitas vezes, apenas estimativas feitas pelas empresas, pois algumas concessionárias não sabem a quantidade exata da sua produção. Sem medidores que determinem valores exatos, a perda pode ser bem maior que o declarado.
“Muitos valores são omitidos. Eles não sabem o quanto perdem de água, porque cerca de 90% das companhias não têm medidores na entrada e saída da estação, então estimam o volume produzido. E muitos mentem para conseguir financiamentos”, afirma o presidente do Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Sindcon), Giuliano Dragone.
As perdas ocorrem devido a vazamentos na rede e transbordamento de reservatórios, ocasionados por falta de manutenção e de investimentos nos sistemas, além da má gestão, aponta Wilson de Figueiredo Jardim, da Unicamp.
Grande parte dessa perda poderia ser estancada com investimentos em renovação das redes e equipamentos de controle. “O setor privado sabe que a perda é sinônimo de ineficiência. As empresas privadas investem muito em automação e em setorização da rede”, alega o presidente do Sindcon. O setor privado atende a 10% da população brasileira, 70% dos consumidores pagam a companhias estaduais pelo fornecimento de água e 20% a órgãos municipais.
Dragone cita os exemplos das cidades de Limeira e Palestina, no interior de São Paulo, onde em poucos anos houve grandes avanços na redução desse volume. “Em 1995, Limeira tinha perdas na ordem de 45% e quatro anos após a concessão esse valor caiu para 17%. Em Palestina era de quase 50% e, em três anos, conseguiu-se reduzir para 15%”, conta.
Bolso do consumidor – Não são as empresas que arcam com os custos da perda. O consumidor é quem acaba pagando a conta, pois esse valor está incluso na tarifa. “Se as operadoras de água não recebessem pelo desperdício, certamente esse quadro seria muito diferente. Mas elas estão numa posição extremamente cômoda porque perdem água e recebem por ela”, afirma Jardim.Na opinião do pesquisador, para mudar esse cenário os governos deveriam fixar metas realistas de redução e buscar o comprometimento das prestadoras de serviço com esse objetivo, além de reforçar a fiscalização. No modelo atual, não existe um órgão federal para fiscalizar as perdas – o serviço é feito por agências reguladoras estaduais e municipais.
Mesmo que as empresas cortem o desperdício de água, especialistas não acreditam que a economia seja revertida ao consumidor. “A redução da perda permite sanar problemas de caixas das empresas. A empresa vai conseguir ter uma boa gestão, economizar com a redução e sobrará dinheiro para investir. Reduzir tarifa é complicado, mas melhorar o serviço para a população é possível”, afirma Dragone.
Para reduzir o desperdício, Osvaldo Garcia, do Ministério das Cidades, não acredita que uma fiscalização mais intensa seja a melhor saída. “Tem que haver investimento por parte da concessionária. Ele tem que investir pra diminuir essa perda”, sugere.
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